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    O Verbo se fez carne “Uma reflexão sobre o Natal”

    A celebração do Natal nos dias 24-25 de dezembro, tem sido uma das datas mais comemorativas do ocidente. Na cultura cristã, a festa relembra o nascimento de Jesus Cristo em Belém, na atual Cisjordânia. Falar sobre essa data tem sido difícil no decorrer dos anos, a cada novo ano a cultura ocidental inclusive aqui no Brasil tem comercializado essa festa tão importante para o mundo em especial para os cristãos.

    Por centenas de anos a igreja ortodoxa comemorou esse momento especial do nascimento de Jesus, porém, um personagem roubou a cena no decorrer da história. No ano de 1930 a Coca-Cola, empresa que produz refrigerantes, (The Coca-Cola Company) lançou seu primeiro comercial com um velhinho barbudo, com bochechas rosadas e muito carismático chamado, Papai Noel. E desde então, o senhor Noel é figura principal que, em muitas culturas ocidentais, traz presentes aos lares de crianças bem-comportadas na noite da Véspera de Natal, o dia 24 de dezembro.

    Com o tempo, as famílias e principalmente às cristãs, se esqueceram do que João diz no capítulo 1 verso 14 do seu livro, “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” A verdade é que não vimos à sua glória, por isso esquecemos do seu nascimento.

    Voltando ao personagem que roubou a cena do nascimento de Jesus, ele também apagou da memória de alguns, um certo Bispo de Mirra chamado Nicolau. Nascido no século III d.C. Nicolau ficou conhecido por sua caridade e afinidade com as crianças. Devido à sua imensa generosidade foi canonizado pela Igreja Católica e tornou-se um símbolo ligado diretamente ao nascimento do Menino Jesus.

    Esse pastor da Ásia menor do IV século, nada se parece com a figura atual que nos foi apresentada como Papai Noel. Ele não trabalhava com elfos, não viajava o mundo nas vésperas de natal distribuindo presentes e nem se quer tinha renas mágicas, dirigindo o seu trenó. Não, ele era um pastor e adorava a Cristo Jesus como Senhor. Com certeza se ele estivesse presente na nossa época, ficaria extremamente espavorecido com a forma que conduziram o seu legado, encobrindo o real significado do Natal.

    Existem várias histórias interessantes sobre Nicolau de Mirra, — histórias sobre sua incrível generosidade para com os pobres (de onde veio a ideia de o Papai Noel dar presentes); além de histórias sobre como ele garantiu a libertação de três prisioneiros inocentes que haviam sido condenados à morte.

    Gosto muito de uma de suas histórias contada na perseguição de Diocleciano e Maximiano, Nicolau teria sido preso, mas foi libertado quando Constantino se tornou imperador. Teve que enfrentar, então, o arianismo, uma heresia pregada por Ário que negava a divindade de Cristo. em um período importante da história da igreja.

    O ano era 325 e o concílio de Nicéia, a questão tratada ali era doutrinaria: a Divindade de nosso Senhor Jesus Cristo. Um grande opositor dessa doutrina chamado Ário, negou a Deidade de Jesus, dizendo que o mesmo não era Deus, o concílio de Nicéia foi organizado, discutiram a controvérsia e definiu-se que Ário era um herege e seus ensinamentos deveriam ser condenados.

    William J. Bennett autor de vários livros, como: “O Livro das Virtudes”, vai nos contar um relato interessante sobre esse pastor de Mirra:

    A tradição diz que Nicolau era um dos bispos que estava no grande concílio [de Nicéia]. À medida que ele ouvia sentado enquanto Ário proclamava uma visão que lhe parecia blasfema, sua ira aumentava. Ele deve ter perguntado a si mesmo: eu sofri todos esses anos na prisão para escutar este homem traindo nossa fé? Sua raiva lhe dominou: Nicolau abandonou seu assento, andou até Ário, encarou-o em cheio, e deu um tapa em seu rosto. Os bispos ficaram atordoados.

    Ário apelou ao próprio imperador. “Alguém que tem a temeridade de bater em mim na vossa presença deveria ficar impune?” ele demandou… [Em consequência disso,] Nicolau ficou trancado em outra ala do palácio.

    Entretanto, no final, o bispo de Mirra teve o resultado que queria. Quando os argumentos foram feitos, o concílio repreendeu Ário por suas crenças. Os bispos escreveram uma afirmação que veio a ser conhecida como o Credo Niceno, um credo que afirma a fé na Santa Trindade e declara que Jesus é “de uma só substância com o Pai”.

    Talvez Constantino secretamente tenha gostado de ver alguém colocar Ário em seu lugar. Talvez alguns dos bispos tenham admirado Nicolau por levantar-se firmemente, talvez com zelo demais, por sua fé. Nicolau deve ter tido amigos e simpatizantes em altas posições, porque quando o Concílio de Nicéia foi concluído, ele foi libertado e seus distintivos clericais foram restaurados. (William J. Bennet, The True Saint Nicholas [New York: Simon & Schuster, 2009], 38-40.)

    Esse relato pode ser somente uma lenda, ou não, a questão em pauta é que se Nicolau estivesse presente hoje, estaria envergonhado com o que fizeram de sua imagem e sobre a nossa falsa representatividade do natal.

    Voltando ao tema central, “O Verbo se fez carne.” Essa expressão denota humilhação por parte da Divindade. Jesus, criador dos homens se fez carne, Aquele que gerou a humanidade em concordância na criação, passou a ser gerado. O Deus que faz o firmamento em gênesis e separa águas de águas, em carne teve sede.

    Santo Agostinho afirma, em seu sermão 190. “Ele está em uma manjedoura, mas contém o mundo. Ele mama no peito, mas também alimenta os anjos. Ele está envolto em panos, mas nos veste com a imortalidade. Ele não encontrou lugar na pousada, mas fez para si um templo no coração dos crentes.” (St. Agostinho, Sermão 190).

    Em um outro ele continua: Que Deus é esse que adorais? Um Deus que nasceu? Que Deus adorais? Um Deus que foi crucificado? A humildade de Cristo desagrada aos soberbos; mas se a ti, cristão, agrada, imita-a; se a imitas, não trabalharás, porque Ele disse: Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados. (St. Agostinho, Sermão 188).

    Deus se fez carne! Não sabemos a verdadeira data, mas nos regozijamos sabendo que ele veio em carne para salvar e perdoar o seu povo. (Mateus 1.21).

    O que era impossível a lei, sabendo que ela era boa e perfeita, sendo nós enfermos na carne, impossibilitados de cumpri-la, Ele cumpriu na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, podemos hoje dizer que não há condenação para aqueles que estão Nele, Aleluia. (Romanos 8.1-39)

    Atualmente essa data é comemorada com ritmo de festa, porém, sem o convidado principal. Nas casas com os familiares ou nas comunidades com cultos vazios que em nada relembram a história do nascimento do menino Jesus. Podemos chamar isso de desinteresse? Ou falta de conhecimento e entendimento do evento? A verdade é que não é do interesse de muitos celebrar esse momento tão especial com louvores, cânticos, reflexão sobre o nascimento ou até mesmo uma pequena oração de agradecimento pela vinda do príncipe da paz. Parece até cômico, mas a tolerância é tão pouca e a importância quase nenhuma, ao ponto de ter que encurtar a oração para não esfriar o jantar que foi preparado desde a tarde.

    Para finalizar a nossa reflexão, sempre vejo mesas fartas nesse dia de tanta humilhação e simplicidade retratado em uma manjedoura fria, com pouca iluminação e com alguns animais ao redor, onde se deu à luz ao menino Jesus que nos comprou com seu sangue remidor.

    Corremos para comprar os presentes de forma compulsiva, a mesa sempre farta com peru, chester, tender, pernil, lombo, frango, peixe, carne assada, saladas e até o refrigerante do velhinho que roubou a cena (Coca-Cola) está presente na mesa, porém, o convidado especial foi absorto e a santidade do evento foi esquecida pela igreja adormecida.

    Que venhamos relembrar o verdadeiro significado do natal, se o verdadeiro Papai Noel (Nicolau de Mirra) estivesse vivo, ele estaria apontando as pessoas para Cristo, mostrando que ele é o verdadeiro significado dessa celebração tão importante.

    Deus te abençoe!

    Jean
    Jean
    Jean Sousa é fundador do site, Plantão Teológico. Serve como pastor na CEC - Comunidade Evangélica do Castelo em BH. Estuda teologia a pouco mais de 12 anos, é bacharel em teologia pelo Seminário Batista FABI, Mestrando em Teologia pelo seminário Teológico Servo de Cristo - SP e desenvolve seus estudos acadêmicos nas áreas de Novo Testamento, História da Igreja e Realidades Eclesiásticas. Casado com Tânia Santos, pai do Riquelme e Heitor. apaixonado por futebol, amante da cultura brasileira e nordestina.

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