Walter Brueggemann (1933–2025): Um Legado Profético de Palavra e Imaginação
Walter Brueggemann, uma das vozes mais influentes na teologia do Antigo Testamento, faleceu na madrugada de 5 de junho de 2025, aos 92 anos. Nascido em 11 de março de 1933, seu legado teológico é vasto, profundo e duradouro.
Reconhecido como um verdadeiro gigante da erudição bíblica, Brueggemann não apenas escreveu sobre o Antigo Testamento — ele moldou a forma como o lemos, interpretamos e aplicamos suas palavras ao mundo contemporâneo. Sua produção acadêmica impressiona: mais de 120 livros publicados, com uma bibliografia que se estende por vinte páginas. Apenas nos anos em que completou 90 e 91 anos, lançou catorze novos títulos. Mas não foi apenas a quantidade que o consagrou, e sim a qualidade e o impacto de sua escrita.
Desde suas primeiras obras em 1968 até seus últimos lançamentos, Brueggemann manteve o foco em temas como a justiça, a crítica ao poder imperial, a esperança profética e a renovação da imaginação teológica. Livros como A Terra: Lugar como Dádiva, Promessa e Desafio na Fé Bíblica (1977) e A Imaginação Profética (1978) tornaram-se clássicos, traduzidos para diversos idiomas e adotados em seminários ao redor do mundo. Neste último, propôs que os profetas bíblicos operavam por meio da crítica e da energização, oferecendo uma alternativa poética e subversiva às narrativas dominantes dos impérios.
Seus comentários sobre livros bíblicos — como Gênesis, Êxodo, Deuteronômio, Salmos, Isaías e Jeremias — são referências indispensáveis para estudiosos, pregadores e estudantes da Bíblia. Entre suas monografias mais influentes estão A Verdade de Davi, Louvor de Israel e Finalmente Vem o Poeta. Em Os Salmos e a Vida da Fé, Brueggemann apresenta sua conhecida tipologia dos salmos em categorias de orientação, desorientação e nova orientação, oferecendo uma leitura pastoral e existencial que desafiou paradigmas litúrgicos e devocionais.
Sua obra-prima, Teologia do Antigo Testamento: Testemunho, Disputa, Advocacia (1997), representa o ápice de sua contribuição à teologia bíblica. Nesse trabalho, Brueggemann propõe uma abordagem dialógica e polifônica das Escrituras, enfatizando que a Bíblia é um campo de vozes em tensão — não um sistema fechado, mas um testemunho vivo.
Mesmo após sua aposentadoria em 2003, sua produção literária se intensificou. Brueggemann continuou escrevendo com vigor, lendo amplamente e explorando campos além da exegese bíblica, como ética, liturgia, homilética e crítica cultural. Seu estilo literário marcante, sua atenção aos detalhes retóricos do texto bíblico e sua sensibilidade pastoral o tornaram um teólogo respeitado tanto na academia quanto na igreja.
Walter Brueggemann será lembrado como o maior estudioso do Antigo Testamento de sua geração. Mas mais do que isso, sua obra permanecerá como um chamado contínuo à fidelidade, à imaginação e à esperança. Seus escritos seguem desafiando leitores a escutar a voz profética da Escritura com ouvidos atentos e corações transformados. Porque, como ele mesmo ensinou, a Palavra de Deus é viva — e nela, ainda ressoa a promessa de um novo mundo.
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